desde o segundo semestre do ano passado, tenho lidado com a obrigação de fazer escolhas que, muito provavelmente, vão impactar de maneira extrema o meu futuro. pra mim, o pior nem é a parte de ter que decidir — no fundo, acho que sempre sei qual é a escolha certa — mas sim não saber qual vai ser o impacto disso lá na frente. minha eu do futuro vai ser feliz com essa escolha? será que essa realmente era a melhor opção? como isso vai influenciar todas as outras mil coisas que fazem parte da minha vida? essas são perguntas que sempre faço pra mim mesma quando preciso decidir.
essa semana, em especial, tive que fazer uma dessas escolhas dificílimas, não por causa da decisão em si, mas porque não faço ideia das consequências que ela vai trazer. dessa vez, o dilema veio na forma de uma oportunidade (muito boa) que surgiu do nada, e eu não soube muito bem como reagir. pra ser mais clara: sabe quando você quer MUITO uma coisa e se esforça pra conquistar, mas com o tempo vai se conformando que talvez isso nunca aconteça? foi mais ou menos assim. bom, eu tenho quase certeza de que tenho síndrome do impostor, então nunca acho que vou conseguir certas coisas. e, resumindo a história, eu queria muito essa coisa, mas já estava conformada que não ia conseguir (obrigada, vozes da minha cabeça). aí, do nada, recebo a notícia de que acabei conseguindo.
o problema foi que, no momento, fiquei super feliz, mas logo depois veio a realização de que essa decisão ia mudar completamente minha vida acadêmica. como eu já tinha me convencido de que não ia conseguir, acabei planejando meu ano inteiro de outra forma. então, depois dessa notícia, tive que replanejar tudo — e essa parte foi a mais difícil. antes disso, minha vida estava estável, eu estava na minha zona de conforto e já tinha praticamente o ano inteiro estruturado. mudar tudo de uma hora pra outra foi angustiante e desconfortável. e agora estou lidando com a incerteza: será que a longo prazo essa escolha foi a certa?
acho que um dos maiores crimes que a ansiedade comete na minha vida é esse: me impedir de ficar feliz enquanto eu não estiver 100% no controle. porque, no fim das contas, eu deveria estar comemorando, mas a verdade é que estou 99% ansiosa e 1% feliz com tudo isso.
bom, pelo menos essa loucura serviu pra algo bom: escrever esse texto. no meio desse turbilhão, comecei a refletir sobre algumas coisas e me lembrei de duas em especial. a primeira: aquela frase sobre a ânsia de ter e o tédio de possuir. e a segunda: a emma morley, do livro/série/filme um dia.
estava rolando obcecadamente o instagram essa semana, tentando não pensar em nada relacionado a essa escolha (como vocês podem imaginar, falhei miseravelmente), e aí apareceu um post com esse trecho do filme:
se você nunca ouviu falar em um dia, recomendo que largue esse texto agora e vá conhecer imediatamente. mas, pra resumir, a história acompanha a vida do dexter e da emma, que são melhores amigos por vários anos, desde que se conhecem no final da faculdade até a vida adulta. não vou entrar nos detalhes da relação dos dois (sério, vá assistir), mas quero falar sobre a emma.
a emma escolhe uma carreira que, no curto prazo, não traz muitos frutos. ela faz algumas escolhas que muita gente consideraria duvidosas e, enquanto o dexter começa a ganhar rios de dinheiro fazendo o mínimo, ela se vê trabalhando como garçonete em um restaurante de comida mexicana aos 25 anos. só que, com o tempo, as coisas mudam: ela consegue uma oportunidade de trabalho muito boa, constrói uma carreira estável e de sucesso, enquanto o dexter, que parecia estar no topo, começa a despencar.
não estou trazendo isso pra dizer que “no final tudo vai dar certo” (porque às vezes não dá) ou pra alimentar aquela fantasia de que as pessoas podres que te magoaram vão se dar mal (spoiler: na vida real, muitas continuam se dando bem. bem-vindos à vida adulta). mas sim pra refletir sobre como a emma passou por tanta coisa difícil e, no fim, foram justamente essas escolhas — até as ruins — que a levaram à versão dela que conseguiu conquistar uma vida melhor.
é muito fácil assistir à série e ver a emma quebrando a cara, pensando em desistir, mas sabendo que no final tudo vai dar certo pra ela. o problema é que, na vida real, a gente não tem esse roteiro garantindo que as coisas vão se encaixar. e, sinceramente, às vezes acho que essa é a parte mais difícil de ser jovem: fazer escolhas gigantescas sem ter a menor ideia de como elas vão impactar nosso futuro. pelo amor de deus, eu sou só uma criança de 24 anos!
despejei bastante angústia nesse texto (sorry, guys!!), e agora nem sei se tem uma moral da história. mas aqui vão algumas coisas que aprendi no meio disso tudo — ou pelo menos alguns pontos positivos (?).
primeiro: por mais difícil que seja tomar uma decisão, no fundo, eu sempre sei o que realmente quero. chame de intuição, sexto sentido ou aquele anjinho no ombro, mas isso me dá um mínimo de tranquilidade.
segundo: lembrei de uma frase do filme tudo sobre minha mãe: “ficamos mais autênticas quanto mais nos parecemos com o que sonhamos que somos”. no fim, acho que é isso que mais importa: fazer escolhas que nos aproximam de quem queremos ser.
e por último, mas não menos importante: a lição que a emma me trouxe foi que todas as nossas escolhas, até as mais duvidosas, nos moldam e nos levam até quem somos hoje. talvez aquela decisão que você tomou e se arrependeu, ou aquele “eu te avisei” que sua mãe soltou, tenha te preparado pra fazer escolhas melhores agora. então, se eu tivesse que dar um conselho sobre tomar decisões, seria esse: nenhuma escolha é errada (a menos que envolva quebrar leis ou algo do tipo). o que importa é priorizar nossa felicidade e se arriscar naquilo que faz sentido pra gente.
entendo perfeitamente esse texto e agradeço muito por tê-lo escrito. a parte mais difícil de escolher é sempre a de se conformar com sua escolha especialmente para os ansiosos.
nossa eu tô amando sua escrita